Blog

Voltar
14/03/2013 NOVIDADES

Em Natação, quando uma habilidade está aprendida?

Um detalhe sutil, mas extremamente importante para todo professor de Natação, e mesmo de Educação Física em geral, é saber quando uma habilidade motora qualquer pode ser considerada “aprendida”.

Ter critério para essa classificação e desenvolver percepção para isso, ainda que subjetivamente, é importante pois da disciplina Aprendizagem Motora sabemos que a maioria das habilidades são desenvolvidas assentadas em habilidades anteriores mais simples que lhe servem de “suporte”.

Em termos de piscina, sobre as habilidades motoras básicas de qualquer ser humano construímos (adaptando-as ao meio líquido) as habilidades básicas no meio líquido, como deslizar, bloquear a respiração, imergir, etc. Sobre estas habilidades básicas na água construímos as habilidades específicas rudimentares dos quatro nados. Sobre estas habilidades específicas rudimentares desenvolvemos as habilidades específicas mais refinadas, e sobre as mais refinadas construímos as habilidades de alto desempenho.

É uma seqüência em cadeia, onde o desenvolvimento de um determinado gesto motor é sempre estruturado pelo aperfeiçoamento e/ou combinação de duas ou mais habilidades anteriores já aprendidas. Habilidade aprendida, portanto é o mesmo que habilidade pronta para compor ou modificar-se em outra mais elaborada.

Os exemplos são inúmeros, mas vá lá:

Apnéia + impulso na borda + flutuação ventral + retomada da posição vertical = deslizamento. Deslizamento em apnéia + ação de braços + ação de pernas = nado em apnéia. Nado em apnéia + respiração técnica = nado rudimentar completo.

Um erro que normalmente se comete nesta questão é que muitos profissionais migram para a prática de habilidades mais elaboradas quando as mais básicas que a compõem ainda não estão de fato aprendidas. É uma espécie de pressa profissional, seja ela por motivações internas (desconhecimento, vaidade profissional) ou externas (pressão por aprovar mais alunos para o nível seguinte, pressão por inscrever mais alunos naquele Festival, etc.).

Portanto, muitas vezes uma habilidade pode oferecer uma dificuldade incomum para um aluno, não por suas características intrínsecas, mas porque as habilidades de que ela se compõe não estão sólidas o suficiente. Neste caso há que se retomar (com exercícios específicos ou simplesmente alterando-se o foco dos educativos mais elaborados) a ênfase nas habilidades ainda não assimiladas suficientemente.

Mas até quando então uma habilidade deve ser alvo de nossa atenção para que esteja de fato aprendida e possa compor as suas sucessoras no processo de desenvolvimento motor?

Bem, não há um tempo único ou mesmo uma regra precisa que possa ser seguida. Tudo dependerá do contexto em que a prática motora ocorrerá: habilidades mais complexas e refinadas vão requerer mais tempo de prática, alunos mais novos ou com pouca vivência motora também. Também se o aluno tiver condições ambientais de uma prática mais qualificada (pouco ruído, boa supervisão e feedback, etc.), o tempo será menor, senão o tempo será maior. Mas um bom começo é entender que quando uma determinada habilidade é praticada ela basicamente passa apor três estágios:

1. Habilidade não executada: praticamente todas as tentativas resultam em erro, apesar da forte concentração cognitiva dos alunos. Acertos são virtualmente acidentais. Muitos ainda estão tentando entender o que deve ser feito e outros já entenderam, mas ainda não conseguem transformar esta compreensão em acerto.

2. Habilidade conquistada: apenas duas ou três tentativas em dez resultam em acerto, que apesar de propositais, são acertos tensos, com alto gasto energético e forte demanda de concentração cognitiva. É nessa fase que muitos professores se precipitam e já consideram a habilidade aprendida.

3. Habilidade dominada: acertos consistentes (oito em dez ou mais), em diferentes situações e execuções nitidamente fluidas e econômicas energeticamente. Apenas nesta fase é que a habilidade está aprendida (ou assimilada de fato).

Professores mais cautelosos neste aspecto referem que o processo acaba tornando-se um pouco mais lento, mas sem dúvida mais sólido e menos sujeito à patamares e refluxos de performances em períodos como férias e feriados emendados.

É observar e ter paciência.

Por: Paulo Henrique Bonacella
http://www.educacaofisica.com.br/index.php/blogs-ef/entry/em-natacao-quando-uma-habilidade-esta-aprendida

Post's Relacionados:

Comentários

Voltar